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postheadericon Seminário Internacional consolida Projeto Escola da Família

 

 

Em 2018, a Prefeitura de Niterói implementou o Pacto Niterói Contra Violência, um programa intersetorial para o estímulo de uma sociedade mais segura e na valorização da cultura da paz. Desde então, muitas ações estão sendo aplicadas para a diminuição dos índices de criminalidade e violência. Um desses atos, cuja responsabilidade está com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), é o Projeto Escola da Família. Como forma de celebração da importância do programa, nas últimas quinta e sexta-feira (26 e 27), ocorreu o Seminário Internacional Parentalidades e Vulnerabilidades, no auditório do H Niterói Hotel (Ingá). O evento foi uma parceria da SMS com a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade de Brasília (UNB) e a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec).

A Escola da Família - projeto pioneiro no estado do Rio de Janeiro - tem capacitado diversos profissionais de saúde nas unidades de Atenção Primária da rede pública. Realizada a capacitação, esses servidores dão aulas para as mães (gestantes e puérperas) durante 8 encontros para que elas reproduzam, com seus filhos, uma educação afetiva e não violenta, com direito a um auxílio financeiro para que frequentem as aulas. Dentre os temas estão: entendimento e vigilância da violência; lugares sociais; desenvolvimento infantil; práticas parentais; alimentação; e vulnerabilidades.

Até dezembro de 2023, 100% das unidades de saúde da Atenção Primária estarão com suas equipes preparadas para realizar essas ações educativas com as mães, contemplando o atendimento que elas já tem no pré-natal.

O seminário foi tanto uma oportunidade para que os profissionais de saúde de Niterói pudessem trocar experiências sobre o trabalho com a Escola da Família, como para teóricos da Parentalidade explicarem os detalhes do conceito - com participações especiais de professores(as) do Canadá e da França. No primeiro dia (26) foi realizado 4 oficinas: estímulo da “escuta ativa” na Perinatalidade; dinâmica de fotos sobre Perinatalidade; troca de experiências entre profissionais das unidades de saúde de Niterói; e discussão sobre a experiência de famílias vulneráveis no Canadá.

A oficina de abertura serviu para expor sobre a importância da escuta psicanalista, o estímulo da fala como metodologia ativa em que a simpatia deve sobressair à mera empatia. O que Freud dizia sobre “cura pela palavra”. Foram exibidos vídeos como o de crianças relatando como era a vida no útero, de depoimentos de uma variedade de mães e um trecho da série Sessão de Terapia. Como foi dito em um dos vídeos: “a mãe é a primeira amostra da humanidade”. Essa mesa foi conduzida por profissionais da Finatec/UNB: Daniela Chatelard; Márcia Maesso; Cintia Lobato; e Alessandra Carvalho. Completando a oficina, Maria Fernanda Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também ministrou a dinâmica. A Finatec é a responsável pela formação dos profissionais de saúde sobre a Parentalidade.

Para ilustrar um caso em que mãe perde a conexão com o filho, foi relatado o caso da Alice, uma mulher que engravidou aos 35 anos, depois ter perdido dois bebês. A primeira perda foi derivada de um aborto, quando tinha 15 anos, em que não teve escolha. Os sentimentos de culpa e o relacionamento conturbado com a própria mãe contribuíam para o desestímulo nessa nova gestação – apesar das insistências de contato das profissionais de saúde.

Na segunda oficina, foram dispostas diversas imagens em mesas: os participantes deveriam escolher duas e expor o que interpretavam delas – em método conhecido como fotolinguagem. Da dinâmica surgiram diversos pensamentos: as mudanças na concepção de família, a importância das redes de apoio, a relação com o sagrado, as estradas simbolizando as diversas formas de criar os filhos, o problema do pai ausente, dentre outros que enriqueceram os debates. A oficina foi ministrada por Didier Drieu e Teresa Rebelo, da Université de Rouen, na França.

Na parte da tarde, profissionais de saúde que estão formando as mães relataram sobre seus trabalhos. Representando a Policlínica Regional Carlos Antônio da Silva (São Lourenço), Liliane Ribeiro afirmou que já são 46 mulheres cadastradas na versão do Projeto na unidade. "A intenção é interromper o ciclo da violência desde a gestação, fortalecendo o vínculo familiar e o maior entendimento do papel da mãe", afirmou. Na Policlínica Regional de Itaipu, Aline Gomes relatou que a equipe garante a liberdade da mãe sugerir temas para os encontros. Já na Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March (Fonseca), Claudia Marcia afirmou que acolher esse projeto é uma forma de desmistificar a crença da facilidade em ser mãe.

Como relato das mulheres que se formaram no Projeto, destaca-se o de Akla Matos, usuária da Unidade Básica de Saúde da Engenhoca: “tenho uma gratidão muito grande aos professores [profissionais de saúde], muito bem treinados e capacitados. Os ensinamentos vão ser bons para o meu filho e para o meu próprio conhecimento. Foi importante também trocar com as mães durante o processo. Eu só tenho que agradecer”.

A presença do Programa Médico de Família também se destacou na apresentação: Gabriela Tardem (PMF Matapaca) e Raphaela Alves (PMF Morro do Céu/Caramujo) relataram o trabalho com as mães com o uso do WhatsApp, a busca ativa na casa das famílias, a exibição de filmes (como o “Renascimento do Parto”), a ligação com o tratamento odontológico e a função das mães em compartilharem os ensinamentos aprendidos como multiplicadoras dentro da comunidade.

Por fim, Fabia Lisboa, da assessoria do Programa de ISTs/HIV de Niterói, trouxe temas para a reflexão como a violência sexual; o direito da criança não se contaminar de forma congênita; a importância do pré-natal seguro; e a sexualidade das gestantes (entendendo a prática sexual não apenas como reprodutiva).

Em outra sala, a palestrante Sophie Gilbert, da Université du Québec (Canadá), trabalhou conceitos como a função da criança dentro da família, a criança como reparadora de uma relação rompida dos pais; e a “criança vital” que reanima a vida da mãe. “Os pais em situação de precariedade não priorizam as necessidades primárias do outro, mesmo de seus filhos – o que pode levar para uma renúncia da criação”, explicou em uma das suas exposições sobre famílias vulneráveis.

O evento continuou no dia seguinte (27) em forma de seminários com exposições de: Paulo Henrique de Morais (da Secretaria Municipal de Ordem Pública); Maria Angélica Duarte (subsecretária de Redes da SMS); Rodrigo Vianna e Ana Maria Vieira (SMS); Augusto Cesar Brasil, Katia Tarouquella, Joana do Patrocínio, Marcele Zveiter, Viviane Legnani e Sandra Baron (FINATEC); Miguel Terradas (Université de Sherbrooke); Regina Orth e Maria Helena Zamora (PUC-RIO); Teresa Rebelo e Didier Drieu (Université de Rouen); Sophie Gilbert  (Université du Québec); e Eduardo Passos (UFF).

"Uma das ações de prevenção é a formação parental. Nós que trabalhamos na área da saúde, a gente tem as consequências da violência, nos índices de mortalidade. [Com esse projeto] a gente tirou o foco de atender nas emergências para atender na prevenção", afirmou a secretária de saúde de Niterói Anamaria Schneider, que abriu a mesa neste dia. Seguindo nessa linha, a gerente do Projeto em Niterói, Zezé Pereira, sintetiza: “pesquisas mostram que as famílias com retaguardas, em relações mais afetivas e participativas, é possível trazer aquele indivíduo para um caminho que não é o da criminalidade”.

Relatando o interesse na construção de um livro com relatos das mães atendidas pelo programa, Katia Tarouquella, coordenadora do Projeto, afirmou: “é um trabalho de atenção e cuidado com as futuras gerações. Uma prova que políticas públicas fortes e potentes dão muito resultado”. Por sua vez, representando a Secretaria Executiva da Prefeitura de Niterói, José Henrique Antunes resumiu: “enquanto gestores públicos temos uma dívida com a população – temos que ter um Estado que devolva a cidadania para as pessoas”.


 
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