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postheadericon Mês da Mulher: 4 entrevistas com profissionais de saúde

 

Em comemoração pelo Dia Internacional da Mulher, a Assessoria de Comunicação (ASCOM) da Secretaria Municipal de Saúde de Niterói, entrevistou quatro profissionais de saúde mulheres para contarem suas trajetórias e as especificidades dos seus trabalhos. Aproveitamos também as recentes datas do Dia Mundial de Enfrentamento da Obesidade (04/03) e do Dia da Nefrologia (09/03) para entrevistar especialistas, em conversas mais técnicas. Ao que segue:

 

Reconhecendo o machismo, Marcia Cardoso promove saúde na Policlínica do Fonseca


1) Como foi a sua entrada no SUS e quais acontecimentos marcantes se destacaram na sua trajetória?

 

Minha entrada no SUS foi através do concurso em 2003. Eu estava há 6 anos parada em casa, cuidando de três filhos e aí surgiu a oportunidade do concurso. Aí entrei pelo posto da Vila Ipiranga. Comecei uma trajetória de muito conhecimento, cursos e muitas capacitações que é o que me marcou e marca, porque a gente entende [a importância] da educação continuada, de você está sempre se atualizando, se aperfeiçoando, porque são tão grandes as mudanças de conhecimento, pesquisa, de números.

E uma pessoa que me marcou muito foi a minha diretora na Vila Ipiranga, que foi a Zezé Pereira. Todo mundo conhece ela na Fundação. Eu aprendi muita coisa com ela sobre o que é acolhimento, o que é saúde pública.

Outra pessoa que sinalizo aqui, que é a Claudia Marcia, que está de como assistente social na Policlínica. Eu já trabalhava com Claudia, desde que entrei bastante crua na Vila Ipiranga. Tudo o que eu sei sobre rotina, fluxos, atendimento de saúde pública, eu aprendi com essa chefe de vigilância, que é uma mestra. A gente faz pergunta, ela responde, indica textos, é uma pessoa maravilhosa.

Admiro muito a atual diretora, Maria Conceição Stern. Uma pessoa que tenho um carinho muito forte. Os nossos filhos estudaram juntos. Tudo que aprendi sobre SUS e acolhimento é personificado no trabalho da Conceição... como uma mulher elástica, em que o abraço atinge todos. Ela é muito carinhosa e querida. Ela é uma gestora que dirige com o coração, uma pessoa extremamente humana e acolhedora.

 

2) Nesse tempo o que percebeu de melhorias no SUS?

 

Nesse tempo que estou na Fundação, que está chegando em 20 anos, a gente percebe um movimento ondulatório. Tem horas que está melhor, tem horas que dá uma caída, tem outras que está muito bom... É uma questão complexa que depende de outras instâncias e envolve vários eixos, setores e condicionamentos. Na ponta a gente aguarda que as coisas melhorem. Mas eu não lembro de nenhuma situação que tenha ficado muito pior, só de algumas faltas. No momento a gente está cheio de esperança, utopias, bons olhares para o futuro.

E essa coisa da pandemia foi a coisa que mais marcou esse período, marcou o mundo. A gente sabe que abalou e que fez mudar paradigmas e dogmas e repensar muitas coisas. Mudou relações, ambientes de família e de trabalho.

 

3) A mulher no trabalho ainda sofre muitas situações de machismo? Quais as estratégias para burlar situações de abusos e violências?

 

Ainda é gritante, ainda é vergonhoso que nós mulheres sofremos muitas situações de machismo, que é um reflexo de um machismo estrutural, da sociedade, que vem de casa. Sorte nossa que eu chutaria que 80% do funcionalismo da saúde é de mulheres. Por um lado dá a visão do caráter cuidador, protetor, mas também temos mulheres machistas.

A gente tem muitas mulheres que batalharam pelos espaços e lutas. Eu acredito que temos que lutar e combater as situações abusivas em conjunto - com o poder público, policial, educacional, familiar. A sociedade como todo. A mídia... ou ajuda ou perpetua fatos que ao invés de amenizar ou transmitir alguma ideia de positiva, acaba por reforçar as situações machistas - e nem todos tem o poder de questionar o que está sendo visto

Mas eu acredito muito que essa situação tem que passar junto. E em nosso trabalho pessoal realizamos roda de conversas, em conversar diretamente com as profissionais de saúde. Uma mulher está sofrendo e não está dando conta e outras é uma série de fatores que essa mulher se retraia, se envergonhe. E esse ambiente de unidade de saúde temos que estar com o olhar atento sobre os comportamento. E estamos sempre debatendo e em alerta para as mulheres que estejam passando por abuso.

Com a pandemia, aumentaram muito os casos de violência. E fizemos um trabalho interdisciplinar, chamando parceiros como CRAS, Defesa Civil, escolas em reuniões trimestrais para discutir as notificações de violência - que são enviadas pela Coordenação de Vigilância em Saúde (COVIG). Todo um trabalho de caso a caso, pensando na melhor estratégia de atender.

 

4) Que recado você dá para as demais trabalhadoras de saúde dentro desse contexto do mês das mulheres?

 

Eu tô aqui sentada na varanda da minha casa, é final do dia, só tirei o sapato mas tô cansada. E o que eu digo para essas mulheres é que a vida continua. E temos que pedir a qualquer fé muita paciência, força, resiliência, auto-estima, amor e prazer, para continuar resistindo como mulher, trabalhadora e mãe. Mas acredito que não é fácil para os homens. Eu também chamo para mim a força masculina, porque qualquer tipo de força vale a pena. Estamos no mês das mulheres, mas todo mês é mês das mulheres. Como é para marcar a história de uma luta que ficou emblemática na trajetória do ser mulher, eu, dentro desse contexto, diria que estamos de parabéns. A gente não pense que estamos sozinhas, que não adianta reclamar, que não adianta lutar. Vemos muitas mulheres vencendo a luta, e vencendo de forma prazerosa. Não pode ser uma questão de vingança ou orgulho, pensando que é mais do que o outro. Nós somos todas, todos, todes, iguais. Somos da mesma raça humana. E temos que nós orgulhar dessa raça e continuar na vida. E ser feliz é o que interessa. Sempre pensando na comunidade, em um grupo, em um país, em um mundo. O desmatamento da Amazônia não afeta só lá, mas todo o mundo. A gente tem que pensar com muito mais carinho no mundo que a gente quer e pensar no mundo que estamos agora. Sempre com a ideia de causa e efeito. Uma hora a gente paga a conta, até do que não é nosso. Eu não nasci na época da escravidão e do nazismo, mas a gente paga essa conta. Se não tiver a atitude no agora, futuramente a gente vê como vai ficar.

 

Márcia Cardoso

Coordenação de Programas da Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March (Fonseca)


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Na luta contra a obesidade da população, Viviane Marins indica alimentação saudável

1) Qual foi seu percurso de formação em sua área?

Sou nutricionista graduada pela UFF, Mestre em Ciências da Nutrição pela UFF (2020). Possuo especialização em Gestão em Saúde Materno Infantil pela Escola Nacional de Saúde Pública, FIOCRUZ (2002). Fui professora substituta, lotada no Departamento de Nutrição Social da Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro - UFF (2004 - 2006). Como Nutricionista, coordenei as Ações de Alimentação e Nutrição no município de São Sebastião do Alto, RJ (1999 - 2017).


2) Como está a situação de obesidade em Niterói? Como fica em comparação a outros municípios?

Niterói para o público adulto apresenta uma prevalência de Obesidade (grau I - 20,9%, grau II - 9,23%, grau III -5,53%) ficando com valores bem similares aos municípios da Metropolitana II (Niterói, São Gonçalo, Maricá, Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito e Silva Jardim) - Fonte: SISVANWEB/Ministério da Saúde/SAPS – acesso em 9/032023


3) Alimentação saudável é um bicho papão? Como induzir uma cultura para alimentação adequada?

Alimentação saudável não deve ser vista como algo de difícil alcance (bicho papão), práticas saudáveis de alimentação podem ser adquiridas e aprendidas através da educação alimentar e nutricional (EAN) que constitui uma importante estratégia para prevenção e controle dos problemas alimentares e para a promoção da saúde de nossa população. Dentro desse contexto se torna fundamental no âmbito das políticas públicas o fortalecimento da EAN nas redes de assistência social, saúde, educação e dentre outras.


3) Quais dietas mais adequadas para quem deseja emagrecer?

Uma dieta adequada é aquela que possui como pilar o consumo de comida de verdade, priorizando os alimentos in natura e minimamente processados (frutas, verduras, leguminosas, castanhas, iogurte natural, carnes, ovos etc.) evitando os alimentos ultraprocessados (biscoitos recheados, macarrão instantâneo, refrigerantes etc.) que possuem um excesso de gorduras saturadas, açúcares, aditivos, corantes e aromatizantes. As dietas restritivas ou da moda que prometem emagrecimento rápido e fácil devem ser esquecidas. É preciso um olhar aprofundado e individualizado sobre todos os fatores que proporcionam o ganho de peso: ambientais, metabólicos, comportamentais, hormonais, genéticos. São parâmetros que necessitam de uma abordagem multidisciplinar.

O Ministério da Saúde elaborou os Guias Alimentares para a população brasileira que são publicações oficiais que podem apoiar a população no cuidado cotidiano, e subsidia os profissionais no desenvolvimento de ações de educação alimentar e nutricional em âmbito individual e coletivo no Sistema Único de Saúde (SUS).

Link para o acesso ao Guia: www.bit.ly/guiaalimentarbrasileiro


4) Especificamente sobre a obesidade infantil, quais são os perigos para as crianças obesas e de que maneira o poder público pode intervir?

A obesidade infantil tem graves repercussões na saúde e bem-estar da criança a curto, médio e longo prazo, com impactos negativos para toda a sociedade. A curto e médio prazo uma criança com obesidade apresenta maior chance de alterações em seu sistema neuropsíquico com quadros de depressão, sofrimento psíquico, distúrbio do sono, menor rendimento escolar e ainda está associada ao aumento das estatísticas do abandono escolar, a longo prazo, os estudos apontam que crianças obesas são mais propensas a se  tornarem  adultos com excesso de peso que poderá ocasionar a presença de morbidades com aumento de mortes prematuras por doenças crônicas não transmissíveis (Doenças cardiovasculares, diabetes e câncer).

O poder público pode intervir desenvolvendo estratégias de saúde públicas intersetoriais no âmbito da macro e da micropolítica em todas as esferas de governo municipal, regional e federal, setores da sociedade civil, instituições acadêmicas e o setor privado, portanto enfrentar esse cenário da obesidade infantil demanda ações sistêmicas.

Viviane Marins

Área Técnica de Alimentação e Nutrição / DESUM / VIPACAF


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Acolhimento e entendimento são as ferramentas de Valéria Villar no UMAM


A psicóloga Valéria Villar tem 24 dos seus 51 anos dedicados ao Sistema Único de Saúde em Niterói, mas nos últimos três meses ela encarou um desafio diferente que foi o de atuar na Unidade de Pronto Atendimento Mário Monteiro em Piratininga, Região Oceânica.


Ela relata que o seu dia de trabalho começa com uma reunião breve em que toda a equipe multidisciplinar que é formada por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem, uma  assistente social, além da própria Valéria como psicóloga. “Ela serve para se ter uma noção geral do que teremos naquele dia, como por exemplo saber se a equipe está completa, se tem alta ou óbito de algum paciente", explica ela antes de resumir. “Minha rotina de trabalho está sob o tripé da Psicologia hospitalar, paciente, família e profissional de saúde”.


Além disso, o acompanhamento de outros profissionais que atuam no UMAM também é feito por Valéria. "A direção disponibilizou uma sala onde eu possa atender os profissionais da unidade e no geral são as mulheres que costumam me procurar mais. Nesse processo de escuta acolhedora, entendi que precisava de mais gente comigo e fiz um contato com o programa Mulherio da UFF e vamos formalizar uma parceria de cuidado com essas mulheres profissionais de saúde”.


Existe também um cuidado especial no atendimento aos pacientes que vivem em situação de rua, com o acompanhamento feito através de parceria com a Secretária de Direitos Humanos que definiu um fluxograma nesse pós-atendimento, com o objetivo de encaminhar o assistido a uma casa acolhedora quando ele sai da UMAM.


Questionada sobre a questão do machismo no ambiente de trabalho, Valéria lamenta que isso ainda aconteça. Ela afirma que o momento 8M é um marco histórico de conquistas femininas, mas é preciso de continuidade nos dias atuais. “Acredito que uma importante estratégia é a informação de direitos. Circular a informação, pois muitas mulheres ainda não conhecem seus direitos. É preciso ter formação de base, nas escolas para diminuir por exemplo a violência doméstica que ainda anda a passos curtos”.


Valéria finaliza afirmando que é possível ter um olhar para dentro e perceber que se pode fazer escolhas sem depender do outro. “Somos capazes de viver em paz com nós mesmos, isso de alguma forma vai impactar e gerar efeitos na sociedade em que vivemos. O Autocuidado é nada mais que a gente olhar pra gente e dizer: Sim eu posso eu quero, eu consigo”.


Valéria Vilar


Psicóloga, Unidade de Pronto Atendimento Mário Monteiro (Piratininga)


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Pelo Dia do Nefrologista (09/03), Daniele Chagas explica sobre doenças renais

1- Primeiramente, qual é a sua formação, Daniele?

Sou graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora, fiz residência de clínica médica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Nefrologia pela Universidade Federal Fluminense.

2- Quais casos clínicos mais comuns da nefrologia e seus tratamentos?

As doenças renais envolvem problemas tanto estruturais quanto relacionados à funcionalidade dos rins. Os problemas mais comuns na prática clínica relacionados aos rins são a insuficiência renal (que é a perda da função do órgão), os cálculos renais (as famosas pedras nos rins), as infecções renais, os cistos e os tumores renais (cânceres). Cada uma dessas doenças têm seu tratamento específico. Em alguns casos, o tratamento é cirúrgico. Nesses casos, o médico responsável, na maioria das vezes, é o urologista. O tratamento é sempre mais efetivo nas fases iniciais da doença, por isso a importância do acompanhamento médico regular e exames de rotina. E, ainda mais importante, a prevenção das doenças adotando hábitos diários de vida saudável.

3- Como se formam as pedras nos rins?

As pedras nos rins se formam quando substâncias como cálcio, oxalato e ácido úrico, se formam em grandes quantidades na urina. Elas se agrupam e formam cristais, que se agregam e formam os coágulos. Isso pode ocorrer principalmente em pessoas com predisposição genética (ou seja, pessoas que possuem familiares com cálculo renal têm maior proposição a desenvolvê-los). Pessoas que bebem pouca água e pessoas com dietas ricas em sódio (sal) e proteínas também estão suscetíveis.

4- Quais as diferenças entre os tratamentos? A rede pública de Niterói fornece eles?

Os tratamentos de substituição renal precisam ser oferecidos quando os rins já não conseguem exercer sua função. São 3 possibilidades: o transplante renal, a hemodiálise e a diálise peritoneal. Todas elas com prós e contras. Daí mais uma vez a importância de um acompanhamento médico para uma decisão conjunta de uma escolha do método. No geral, a hemodiálise se faz em clínicas especializadas: o paciente com certa periodicidade vai até o local onde ele é conectado a uma máquina que filtra o sangue. O paciente precisa de um acesso vascular para essa conexão. Já na diálise peritoneal, o paciente precisa de um cateter implantado na barriga - um líquido é introduzido e retirado pelo cateter. Esse procedimento pode ser realizado de forma manual ou através da uma máquina na própria casa do paciente depois que ele passa por um treinamento. O SUS oferece os 2 métodos.

4- Por que a enfermidade é mais comum e prejudicial em diabéticos e hipertensos?

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) e o diabetes mellitus (DM) são grandes fatores de risco para a doença renal crônica terminal (DRCT). Essas doenças causam dano progressivo aos vasos sanguíneos dos rins. A obesidade, tabagismo e o sedentarismo são também outros grandes fatores de risco. 5) A prevenção de agravos renais precisa ser sempre incentivada, através de hábitos saudáveis de vida. Recomenda-se prática regular de atividade física, alimentação saudável, não fumar, ter cuidado com a hidratação, controlar o peso, controlar pressão arterial e a glicose sanguínea, usar medicação somente com orientação médica, evitar uso de anti-inflamatórios não hormonais e ter acompanhamento médico, além de realizar exames regulares de acordo com a idade e comorbidades.

5- De que forma é possível antecipar agravos renais com atitudes de prevenção?

A prevenção de agravos renais precisa ser sempre incentivada, através de hábitos saudáveis de vida. Recomenda-se a prática regular de atividade física, alimentação saudável, não fumar, ter cuidado com a hidratação, controlar o peso, a pressão arterial e a glicose sanguínea, usar medicação somente com orientação médica, evitar uso de anti-inflamatórios não hormonais, ter acompanhamento médico e realizar exames regulares de acordo com a idade e comorbidades.

Daniele Chagas

Nefrologista da Policlínica de Especialidades Sylvio Picanço (Centro)

 


 
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